23 dezembro 2010

RESPIRAÇÃO – VELOCÍMETRO DA ALMA







Não há quem duvide da grandeza e da magnitude do processo de respirar para a sobrevivência do ser humano.
A respiração vai muito além das meras trocas gasosas de oxigênio por gás carbônico – esta é apenas uma das etapas que constituem esse meticuloso estado responsável pela preservação da vida – sim, ela “instala” a vida no ser humano – ao nascimento com a 1ª inspiração e “recolhe” a vida, no momento da morte, com a última expiração. Pela respiração entramos e saímos do mundo terreno! Se observarmos as três etapas do processo respiratório: inspiração (o2) – troca (sangue) – expiração (Co2), podemos imaginar que o processo de vida e morte se repetem continuamente indicando que a nossa vida também teria o caráter de uma grande respiração: começa com inspiração e termina com expiração e tudo que acontece entre o 1º e o último movimento são as “trocas”! A respiração é a maneira que o homem tem de manter o contato do seu mundo interno com o mundo externo – e é isso que o mantém vivo! O fato de ele poder se relacionar (trocar) com a natureza e os outros seres vivos é condição sinequanon para a vida e para um desenvolvimento caracteristicamente humano!
Explico: todos nós temos um mundo interno, ou seja, uma alma que nos dá a capacidade de Pensar, de Sentir e de Agir – só nós conhecemos e dominamos este mundo que é singular, único para cada um. Porém ele só tem razão de ser e de evoluir se encontrar-se, confrontar-se, relacionar-se com o mundo que está fora de nós – os outros seres, a natureza, os acontecimentos, o clima etc. É nesse processo que todos nós nos desenvolvemos e elevamos a nossa própria condição humana! É daquilo que entra em nós do mundo externo que podemos elaborar “diálogos internos”, que depois se exteriorizam novamente para compor o mundo externo, impregnado de uma parte de cada um.
Podemos supor então que o ar, representante do mundo externo, se compõe de um pouco de cada um de nós e um pouco de tudo que existe na natureza, desde os elementos visíveis, ponderáveis até os mais imponderáveis demandados pelas esferas cósmicas. Isso tudo a que chamamos Mundo Externo, penetra no ser humano de maneira mais ou menos profunda, segundo um consentimento e uma preparação de cada um, e está traduzido claramente no modo como cada pessoa respira!
Se tivermos abertura, liberdade e coragem para receber o mundo externo, nossa inspiração é grande, ampla, profunda; se tivermos insegurança, ansiedade, medo de contato,essa inspiração se encurta, fica superficial não conseguindo preencher 100% dos pulmões. Essa condição obriga a pessoa a respirar mais vezes para compensar as necessidades gasosas e, portanto essa respiração se torna mais rápida. Isso dificulta fisicamente uma boa oxigenação e, ao mesmo tempo, impede uma verdadeira percepção desse mundo externo, o que produz uma sensação anímica desagradável como uma incapacidade de lidar com as coisas práticas, reais, levando esses indivíduos a viverem num mundo fictício, com muita dificuldade de viver no presente – com tendência a idéias fixas, repetições – característica dos ansiosos. Algo semelhante, porém de modo inverso, pode acontecer com a expiração. Alguns indivíduos recebem o ar de maneira razoavelmente normal, mas são incapazes de soltar completamente aquela porção de si que está injetada obrigatoriamente no ar expirado. São pessoas com dificuldades de doar-se em todos os sentidos; guardam muitas coisas, tem muitas dificuldades para mudanças tendendo ao conservadorismo – é característico esse comportamento nos asmáticos, onde a dificuldade é a saída do ar (expiração) facilmente observada numa crise asmática, onde o indivíduo parece ter que “soprar”, ou seja, fazer força para soltar o ar que deveria seguir um caminho passivo. Nesse ponto o leitor já terá condições de perceber que a respiração saudável em repouso, deverá reger um movimento de entrada e saída de ar num ritmo oscilante e harmônico apenas semiconsciente, e sem esforço algum.
Será capaz de intuir que quando o ritmo respiratório acelerar, assim também se encontrará o nosso mundo interno (alma) num susto ou medo extremo, por exemplo, e que quando dormimos esse ritmo, deverá ser mais lento.
A respiração evidencia uma parte da alma e participa como causa ou conseqüência em muitas patologias, especialmente aquelas onde está dificultado o contato com o presente.
A cura desses processos deverá incluir obrigatoriamente um trabalho com a própria respiração para que esta alcance uma maior profundidade, um ritmo mais harmonioso, trazendo novamente a sensação de pertencimento ao mundo terreno e a re-conexão com o tempo real e com o presente.
Fica implícito então, o vinculo que a respiração tem diretamente com o nosso mundo interno, aquele que nos guia que nos anima e que, em última análise, detém o controle que regulamenta a velocidade – ora acelerando, ora desacelerando todo processo respiratório. Dizemos que através da respiração temos idéia do que acontece no mundo interior, ou na alma de uma pessoa podendo mesmo assumir uma característica como se fora o seu próprio velocímetro. Essa é uma poderosa ferramenta para médicos e terapeutas que ao observarem atentamente as características respiratórias, certamente terão boas informações sobre o funcionamento do mundo interno e de seus pacientes.
Dra. Elaine Marasca Garcia da Costa é médica Pneumologista com formação em Antroposofia/Biografia Humana. Mestre em Ciências da Educação. Docente/ coordenadora do curso de pós-graduação - Antroposofia na Saúde na UNISO.


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